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Foto do escritorIberê do Nascimento

Garrincha - Anjo Torto

Anjos são corpóreos,

(se assim os necessito).

Outras vezes puro espírito.

(in Oran, de Iberê do Nascimento)

Estrabismo.

Ancas pendentes.

Cocho.

Genuvalgo e genuvaro. Ao mesmo tempo.

As duas pernas torcidas para o mesmo lado.

Garrincha era uma improbabilidade.

Titular da seleção dos melhores de todas as Copas do Mundo do século XX (FIFA players of the century).

Maior driblador da história do futebol (International Hall of Fame).

Garrincha era mesmo uma improbabilidade.

 

As chances estatísticas são mesmo muito cruéis. Mais ainda num país como este. Meninos pobres. Pretos. Cafuzos, como ele. Manuéis dos Santos, como ele.

Os cães das sarjetas. As pedras foram feitas para atrapalhar o caminho.

O jogo, o verdadeiro jogo é o seguinte: você fica com o que sobra da festa. Está me entendendo?

Menino torto. Menino simplesmente. Nadar. Caçar passarinho. Embrenhar rios e matas, o mundo era o quintal.

E principalmente correr atrás de bola. Qualquer uma. Bola de meia, bola de bexiga, raras as de couro, que o dinheiro era pouco. Quatro, cinco vezes ao dia. Gingar. Entortar a linha reta até não poder mais. Sempre foi impossível conter seus dribles, inclusive os que ele aplicaria em si mesmo pela vida afora.

 

Quebrar as chances estatísticas é mesmo muito arriscado. Subverter a ordem das coisas pode te trazer problemas. O destino vem cobrar a conta: vai Anjo de Pernas Tortas, ser torto na vida. Mas o menino dentro de você estará perdido para sempre. Este, o preço.

 

 


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